Bafo da Onça, um dos blocos de carnaval mais tradicionais, retoma eventos e se prepara para reconstruir bateria
26/07/2025
(Foto: Reprodução) Bafo da Onça retoma eventos na quadra e planeja volta da bateria
Um dos blocos de embalo mais tradicionais do Rio, o Bafo da Onça vive uma onda de rejuvenescimento com a retomada de eventos em sua quadra, em parceria com um grupo que tem se destacado nos últimos carnavais retomando tradições de folias antigas, o Glorioso Mergulho a Fantasia.
A primeira festa, um “folguedo junino” atraiu um público jovem e “hypado” à quadra do Bafo no Catumbi, na Região Central do Rio. Neste domingo (27), acontece uma roda de samba com direito a presença do ex-rival e atual bloco amigo Cacique de Ramos e encontro de baterias (veja no fim da reportagem o serviço do evento).
📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça
Segundo a direção do bloco, as festas estão em um contexto de tentar resgatar os dias de glória do grupo e também revitalizar o bairro do Catumbi, que sofre com falta de opções de lazer.
No auge, o Bafo da Onça chegava a reunir entre 8 mil e 10 mil foliões. O bloco, vale observar, só deixou de sair em 2017, apesar de desafios recentes, como um incêndio na sede.
“Tivemos um incêndio no início dos anos 2020 no qual perdemos todos os instrumentos de bateria, acervo, registros antigos, fantasias… Com a crise financeira, não conseguimos repor as peças [de bateria]. No carnaval, estávamos contando ritmistas de outros lugares, nossos componentes são da [escola de samba] Estácio, Mangueira, [bloco] Badalo de Santa Teresa. Mas com as festas e outros projetos, como editais e patrocínios, temos o objetivo de montar uma bateria com 80 peças para o próximo carnaval”, explica Robson Patronelli, que é da direção do bloco.
Folguedo Junino na quadra do Bafo da Onça
Diana Sandes/Divulgação
Robson é neto de Capilé, o presidente do Bafo por muitas décadas. “A gente tem o sonho de ver novamente o Bafo como era na minha infância, com milhares de pessoas”, explica, acrescentando que com a retomada da bateria, será possível desenvolver projetos sociais na quadra para crianças da região.
A parceria com o Glorioso Mergulho, bloco que retoma há 2 anos a tradição do banho de mar à fantasia no carnaval do Rio, surgiu quando o coletivo mais jovem procurava um lugar para fazer uma festa e levantar recursos para o desfile no ano que vem.
O grupo tem em seu DNA a pesquisa de carnavais antigos e já admirava blocos como o Cacique, que fazia mergulhos a fantasia em Ramos, e o Bafo, que conduzia concursos de beleza entre foliões no Flamengo, entre outros eventos.
Coletivo Glorioso Mergulho tem produzido eventos no Bafo da Onça
Diana Sandes/Divulgação
O sucesso da festa junina animou o Glorioso Mergulho, coletivo formado por Aïcha Barat, Alex Teixeira, Bruno Eppinghaus, David Coelho, Diana Daou, Marcos Quental, Mateus Nagem, a continuar com a parceria com o Bafo.
“O primeiro evento foi bem e, para um segundo, a primeira coisa que a gente pensou foi convidar o Cacique de Ramos. Eles tinham uma rixa que foi superada. Neste domingo, o Boêmios de Irajá, outro grande bloco de embalo, também vão fazer uma participação”, explica Aïcha Barat.
“Será um dia histórico e muito especial. Um encontro que traz emoção, carinho, homenagens, respeito e muito samba. Que honra fazer parte desse momento único. Salve o Cacique de Ramos! Salve o Bafo da Onça!” diz Junior Nova Geração, intérprete oficial do Cacique de Ramos e vocalista do grupo Quintal do Cacique.
Cacique x Bafo, o ‘Fla-Flu’ dos blocos de embalo
Relembre dois dos mais tradicionais blocos do Rio: Bafo da Onça e Cacique de Ramos
Bloco de embalo é um termo associado a agremiações com baterias, que tocam músicas animadas - não necessáriamente sambas-enredo temáticos - e desfilam. Entre os mais famosos estão justamente o Cacique de Ramos, Bafo da Onça e Boêmios de Irajá.
O Bafo da Onça foi fundado em 1956 no Catumbi, bairro que já tinha tradição na folia, com diversos ranchos carnavalescos, blocos e cordões. O nome da agremiação foi inspirado em um folião, Tião Carpinteiro, que saía todo ano fantasiado de onça e tinha disposição etílica elevada, produzindo um hálito característico.
A revolução no samba conduzida nos anos 80 pelo grupo Fundo de Quintal fez com que o bloco Cacique de Ramos, onde o conjunto surgiu, se fortalecesse muito e com merecimento no imaginário do carnaval carioca. Nos anos 50, entretanto, há registros da imprensa da época indicando que o Bafo chegou em determinado período a arrastar mais foliões.
O Bafo sofreu baques após a reorganização do carnaval de rua do Rio em sua região nos anos 80, onde surgiu o Sambódromo. Atualmente desfila na Avenida Chile, onde hoje em dia atrai públicos menores, enquanto desfiles do Cacique ainda são concorridos.
Bafo da Onça já desfilou em seu bairro, o Catumbi, e outras regiões do Centro
Arquivo/Bafo da Onça
Se nas primeiras décadas dos blocos, o carnaval de rua do Rio teve clima de “Fla-Flu” entre o Cacique e o Bafo da Onça - hoje as agremiações são muito amigas. Foi fundamental nesse diálogo a figura de Bira Presidente, que morreu em junho. Depois, os blocos até participaram da gravação de discos juntos. A relação também foi lembrada em um desfile da Mangueira que homenageou o Cacique.
“O Bafo e o Cacique são movimentos fundamentais da cultura do Rio de Janeiro, duas instituições que transcendem as fronteiras do país — seja pelas histórias que se entrelaçam, seja pela força que nunca nos deixou desistir, mas, sim, resistir”, diz Márcio Nascimento, gestor do Cacique de Ramos.
Serviço e programação
Durante o carnaval, Seu Tião Carpinteiro, o fundador do bloco, desfilava fantasiado de onça-pintada
Arquivo do Bafo da Onça
Mergulho da Onça
🗓️ Quando? 27 de julho (domingo)
⏰ Horário: A partir das 13h
📍 Onde? Quadra do B.C. Bafo da Onça – Rua Dr. Agra, 25 – Catumbi, Rio de Janeiro
💲 Entrada: Gratuita
PROGRAMAÇÃO
13h - DJ Holograma / feijoada
14h30 - Resenha nº 1 - Bafo da Onça, 70 anos de folia
15h10 - Resenha nº 2 - Do Catumbi aos desfiles no Centro de cidade
15h50 - Resenha nº 3 - Interseções entre a Passarela do samba e a rua
16h30 - DJ Marcus Alves
17h - Roda de samba do Cacique de Ramos convida Bateria do Bafo da Onça
18h00 - DJ Marcus Alves
18h30 - Roda de samba do Cacique de Ramos convida Glória Bonfim
19h35 - DJ Bieta
20h20 - Roda de samba do Cacique de Ramos convida Bateria do Cacique
22h - DJ Bieta
RESENHA nº1
Bafo do Onça, 70 anos de folia
Roberto Saldanha — Capilé, presidente do B.C. Bafo da Onça há mais de cinco décadas
Daniel Fernandes - pesquisador
c/ mediação de Fabio Silva de Moraes, diretor do B.C. Bafo da Onça
RESENHA nº2
Do Catumbi aos desfiles no Centro da cidade
Ana Thereza de Andrade Barbosa, coautora de As onças pintadas do Catumbi
Ângelo Diniz, autor de Bafo da Onça de Catumbi
c/ mediação de Sérgio Almeida, presidente da Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do RJ
RESENHA nº3
Interseções entre a Passarela do Samba e a rua
Luizinho Kapoera, intérprete do B.C. Bafo da Onça desde 1982
Thayssa Menezes, enredista de carnaval e carnavalesca
c/ mediação de Alex Teixeira, pesquisador e integrante do Glorioso Mergulho
LEIA TAMBÉM
Cacique de Ramos ganhará Centro de Memória com itens como instrumentos de Bira, Ubirany e Sereno; fantasias e outras relíquias
Capilé, presidente do Bafo da Onça
Diana Sandes/Divulgação
