Lula ignorado por Trump? Entenda a dificuldade do governo para negociar tarifaço com os EUA

  • 26/07/2025
(Foto: Reprodução)
Valdo: Trump não autorizou diálogo da Casa Branca com o Brasil O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se queixou nesta semana da falta de disposição do presidente Donald Trump para negociar a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros — prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. Lula afirmou na quinta-feira (24) que o republicano “não quer conversar” sobre o tarifaço e disse que o Brasil está disposto a avançar nas negociações, desde que os EUA também tenham interesse. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Em desabafo a interlocutores, Lula também reclamou, um dia antes, da falta de um canal direto de negociação com Trump. O petista relatou que, embora existam conversas em nível diplomático, elas não chegam à Casa Branca. A ordem de não dialogar com o Brasil foi dada diretamente pelo republicano, revelou o blog do Valdo Cruz. Nesta sexta-feira (25), uma comissão de senadores embarcou aos EUA para tentar abrir uma frente de tratativas, a uma semana do início do novo tarifaço. Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que os canais de comunicação entre Brasil e EUA, de fato, não são eficazes — o que mantém as negociações travadas. Para eles, um dos grandes obstáculos é a política comercial americana, que tem sido moldada por um forte viés geopolítico sob Trump. Na prática, as decisões tarifárias partem diretamente da cúpula da gestão do republicano, ofuscando, por exemplo, as equipes técnicas da diplomacia e do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) — tornando a negociação ainda mais difícil. Além disso, há outros interesses envolvidos, como a disputa por influência com a China na América do Sul, afirma o coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP, Alberto Pfeifer. Nesta semana, também veio à tona o interesse dos EUA nas terras raras brasileiras. (entenda abaixo) Leia nesta reportagem: A comunicação truncada entre EUA e Brasil Como a presença da China influencia o jogo geopolítico Minerais estratégicos estão no radar Por que a pressão de empresários pode ser a saída 'Ele não quer conversar', diz Lula sobre posição de Trump diante do tarifaço A comunicação truncada entre EUA e Brasil O professor Amâncio Jorge de Oliveira, do Instituto de Relações Internacionais da USP, vê o cenário com pessimismo. Ele afirma que as conexões e os diálogos são “muito fechados”, o que tem impedido o avanço das tratativas entre Brasil e EUA, inclusive no campo diplomático. "O isolamento, de fato, existe. É resultado de uma série de fatores, incluindo a ausência, desde a posse de Trump, de uma iniciativa do governo brasileiro para abrir um canal de diálogo diplomático. Isso, somado a outros elementos, levou ao cenário de afastamento atual", diz. Para o analista de risco político Leandro Lima, professor da Escola de Relações Internacionais da FGV, a ineficácia na comunicação não se deve propriamente a uma incompetência brasileira, mas à forma como os EUA têm formulado sua política comercial. Ele destaca que o decisor-chave é a Casa Branca. Ou seja, as equipes técnicas, como a diplomacia e o USTR (Escritório do Representante de Comércio), têm sido ofuscadas por decisões diretas da cúpula do governo, geralmente de caráter geopolítico. "Então, devido à forma como a política comercial dos EUA tem sido formulada, o Brasil tem enfrentado grandes dificuldades para acessar os decisores-chave", diz Lima. Nesta semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que teve uma conversa de 50 minutos com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Segundo ele, o Brasil informou oficialmente que tem interesse em negociar a tarifa de 50%. Alckmin não detalhou a conversa, mas afirmou que o presidente Lula tem orientado para que a negociação não sofra contaminação política ou ideológica, e se concentre na busca de uma solução para a questão comercial. Alberto Pfeifer, da USP, afirma que o Estado brasileiro tem "quadros muito qualificados" para as tratativas, mas segue uma direção de política externa que "deturpa o potencial brasileiro". Ele também classificou como "patética" a decisão de enviar uma delegação de senadores aos EUA. "As ideias são tão patéticas. Mandar delegação de senador, delegação de empresário, para falar com quem, sobre o quê? Não há nenhuma visão coordenada, consolidada de contenção de danos, de barganhas possíveis, de possibilidades, de proposituras. Não tem isso", diz. "[É um equívoco] achar que Trump está aberto para uma negociação ganha-ganha ou coisa do tipo. Não tem ganha-ganha para o Trump. Para ele, é "eu ganho e eu ganho de novo". E se você perder, problema seu", acrescenta. José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, lembra que os EUA mantêm uma parceria sólida com o Brasil. Ele avalia, porém, que "faltou um aprofundamento técnico e estratégico sobre como se alinhar em temas importantes para os dois países". Voltar ao índice. Como a presença da China influencia o jogo geopolítico Para Pfeifer, da USP, Trump não está preocupado nem com o Brasil, nem com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas sim com a China, com quem trava uma disputa por influência e hegemonia na América do Sul. "O Brasil é uma peça no cenário global de interesse de duas partes que estão em uma disputa hegemônica: China e EUA", diz o especialista. "E não é só o Brasil: é tudo o que a área, a preponderância desse espaço representa", continua, ao citar a posição estratégica do país em uma região com acesso a três oceanos, rotas logísticas cruciais e espaço aéreo importante para satélites. Em 9 de julho, ao justificar a elevação da tarifa sobre o Brasil, Trump citou Jair Bolsonaro (PL) e classificou como "vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). A carta enviada a Lula também falou em “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Pfeifer enfatiza que o recado de Trump foi claro logo de início: ele não quer negociar — o que também ajuda a explicar a dificuldade de comunicação do governo brasileiro. "Quando Trump atrela as tarifas à reversão do processo na Suprema Corte brasileira — algo inegociável, por afrontar a soberania nacional, a autodeterminação do Brasil e a estrutura democrática e republicana do Estado —, é porque não há espaço para negociação", diz. "Além disso, ele impôs ao Brasil a tarifa mais alta, mesmo sem uma motivação econômica ou comercial, como com outros países. Isso também estabelece um padrão de não negociação. A questão é que Trump não está preocupado com Bolsonaro, mas sim com a China", acrescenta. Voltar ao índice. Depois da chantagem tarifária, EUA avisam que querem minerais encontrados no Brasil Minerais estratégicos estão no radar O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, afirmou na quinta-feira (24) que o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou o interesse do governo norte-americano nos minerais críticos e estratégicos (MCEs) do Brasil. 🔍 Minerais críticos e estratégicos têm um papel central na economia atual e nas transformações do futuro. Estão presentes, por exemplo, em tecnologias de ponta, como chips para celulares e computadores, e são essenciais para a transição energética. Por isso, as terras raras — que formam um grupo de 17 elementos químicos — são fundamentais para a geopolítica global. Nos últimos meses, por exemplo, os EUA firmaram acordos com Ucrânia e China sobre esses materiais. O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo, atrás apenas do país asiático. Segundo Jungmann, ex-ministro da Segurança no governo Michel Temer, Gabriel Escobar citou o tema durante reunião com o setor privado. O Ibram, que reúne as principais mineradoras do país, é uma entidade privada sem poder de negociação com governos estrangeiros. Com o avanço da transição energética e a corrida tecnológica entre os EUA e a China, a pressão sobre essas cadeias de fornecimento continua a crescer. Por isso, o Brasil despertou o interesse dos EUA — e o tema pode, a partir de agora, entrar na mesa de negociação. Apesar de ter demonstrado disposição para negociar o tarifaço, Lula foi resistente em relação às terras raras. Em evento na sexta-feira, o presidente afirmou que "ninguém põe a mão" nos metais estratégicos brasileiros. Voltar ao índice. Por que a pressão de empresários pode ser a saída O professor Amâncio Jorge de Oliveira, do Instituto de Relações Internacionais da USP, avalia que a pressão e a mobilização do setor empresarial podem ser uma alternativa para enfrentar as tarifas impostas por Trump. Ele sugere a criação de uma "coalizão empresarial" formada por líderes do setor privado do Brasil e dos EUA, incluindo segmentos da mesma cadeia produtiva, importadores norte-americanos e empresas americanas instaladas aqui no país. "A ideia seria mostrar as potenciais perdas também para os EUA — não só para o Brasil, mas principalmente para os EUA — no sentido de sensibilizar e tentar reverter essa medida", afirma Oliveira. "Até a proposta ser implementada, antecipar uma retaliação seria um erro dramático. Mas nada indica que o governo brasileiro vá partir para essa etapa sem antes verificar o que deve acontecer no dia 1º de agosto", acrescenta. José Luiz Pimenta, da BMJ Consultoria, também considera que o caminho envolve a pressão do setor privado para mostrar os malefícios causados pelo aumento tarifário, como a alta da inflação nos EUA. "É necessário o envolvimento de produtores como os de café, suco de laranja, aviões [caso da Embraer], madeira, entre outros", diz Pimenta, ao lembrar alguns dos itens mais exportados pelo Brasil aos EUA. Apesar de Trump alegar desvantagem comercial ao anunciar seu tarifaço, o Brasil registra déficits comerciais com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos. Isso significa que o país gastou mais com importações do que arrecadou com exportações, o que anula a justificativa. Veja o gráfico abaixo: Voltar ao índice. Montagem mostra Trump e Lula Eduardo Munoz/Reuters; Ricardo Stuckert/Divulgação via Reuters

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/07/26/lula-trump-entenda-a-dificuldade-do-governo-para-negociar-tarifaco-com-os-eua.ghtml


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